segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

O golpe milionário da madeira ilegal no Pará

Funcionários da Secretaria de Meio Ambiente do estado teriam recebebido propina para conceder as autorizações para a retirada de madeira de assentamentos do Incra.Um golpe milionário contra um patrimônio do Brasil foi descoberto no estado do Pará. Uma fraude que teve a conivência comprovada de quem deveria combater esse tipo de crime. A reportagem é de Jorge Ladimar e Roberto Paiva. O golpe começou no fim do ano passado, quando a Secretaria de Meio Ambiente do Pará concedeu autorizações para a retirada de madeira de assentamentos do Incra. A atividade é permitida desde que a área tenha muitas árvores para que haja o menor dano possível à floresta. É o chamado manejo florestal sustentável. Mas, de acordo um empresário, que não quer aparecer, funcionários da secretaria receberam propina para conceder as autorizações. E não foi só isso. "São projetos piratas. São projetos de manejo que não existem. Acabam criando manejo num lugar que não tem floresta para dar cobertura em outro lugar onde a madeira foi extraída de forma ilegal". Segundo o empresário, o golpe funciona assim: o madeireiro derruba árvores em áreas distantes dos assentamentos. Com a conivência dos funcionários da secretaria, essa madeira passa a constar da papelada oficial, como se tivesse sido extraída, legalmente, nos assentamentos. Para verificar a denúncia, fomos a dois lugares indicados nas autorizações. O assentamento Rio Itacoroa fica no município de Baião. Nesta área, a Secretaria de Meio Ambiente do Pará autorizou a retirada do equivalente a 2,6 mil carretas de toras, mas quem anda pelo local encontra muitas áreas já desmatadas e pouca floresta. Nas estradas do assentamento não havia um único caminhão transportando toras. “Aqui está saindo caminhão com madeira ou não?”. “Não”. De acordo com uma autorização, no assentamento vizinho, chamado Boa Sorte, há grandes quantidades de jatobá, maçaranduba e angelim, madeiras de alto valor comercial. Mas veja o que diz o morador: “Tem jatobá aqui?”. “Tem nada”. “Maçaranduba?”. “Também não” “Angelim?”. “Não”. Para o pesquisador Paulo Amaral, da Imazon, os manejos não poderiam mesmo ter sido aprovados nesses locais. “Tem que ter floresta para ter plano de manejo. Onde não tem floresta, não se faz manejo”. Ao todo, estava prevista a retirada de 109 mil m³ de madeira dos assentamentos. São cerca de 20 mil árvores, que, depois de serradas, renderiam R$ 30 milhões. O secretário de Meio Ambiente do Pará reconheceu que a documentação foi fraudada. “Houve uma manipulação dos dados do projeto, o que nos levou a bloquear o projeto, e agora estamos buscando colher provas em campo para que a gente possa, de fato, fazer a apuração de forma a responsabilizar engenheiros e responsáveis pelo projeto”. Valmir Ortega confirmou que várias empresas já conseguiram movimentar ilegalmente pouco mais de 10% do total autorizado. O secretário, que assinou as autorizações, negou envolvimento no esquema. “Pela minha mesa passam aproximadamente oito mil processos por ano, portanto é absolutamente impossível que o secretário revise na sua mesa todos os processos que são assinados durante o ano”. A proteção do meio ambiente será um dos vários temas discutidos no Fórum Social Mundial, que começa nesta terça em Belém. Será um contraponto ao Fórum Econômico Mundial, que começa na quarta-feira em Davos, na Suíça.

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