domingo, 18 de janeiro de 2009

Micarla diz que é hora de arrumar a casa

Os primeiros 15 dias da gestão Micarla de Sousa foram dias de avaliações, cálculos e diagnósticos para se chegar a um resultado que a prefeita e sua equipe não esperavam encontrar. Nesta entrevista, Micarla afirma que a cidade passa por um momento de muita dificuldade, com as dívidas da prefeitura e a calamidade pública da saúde, entre outros problemas. Por isso, a prefeita declara que é hora de se voltar para a administração e evita falar em política e nas projeções para as eleições de 2010. Abaixo, Micarla de Sousa detalha porque se surpreendeu com a forma que encontrou a Prefeitura de Natal e revela seus projetos para fazer - como ela mesmo diz - a cidade ‘‘andar’’ novamente. Confira a íntegra: O Poti - Como a senhora avalia os seus primeiros 15 dias de administração? Micarla de Sousa - Em primeiro lugar, eu me sinto muito feliz de estar sentada aqui nesta cadeira de prefeita e poder buscar soluções para os problemas de nossa cidade. Mas eu não posso, de forma alguma, dizer que eu não me surpreendi com a realidade com que, infelizmente, eu tive que me deparar logo que cheguei à administração de Natal. Até porque, anteriormente, eram transmitidas informações de que a prefeitura tinha as suas contas ajustadas e até um excesso de recursos públicos disponibilizados pelo governo federal. Mas, verdadeiramente, não foi isso que nós encontramos. O que posso dizer deste balanço dos 15 primeiros dias é que foram dias de muito trabalho e que eu e minha equipe enveredamos noites adentro, quase madrugadas adentro, analisando números, vários relatórios de diagnósticos, visitando muito lugares, até mesmo porque não sou prefeita para ficar dentro de quatro paredes. São momentos difíceis que nós estamos enfrentando, porque são momentos extremamente inesperados. Mas, tanto eu como Paulinho (Freire) estamos preparados para neste momento podermos buscar as soluções. Quanto tempo a senhora avalia que será necessário para poder solucionar estes problemas encontrados na prefeitura? Olha, é muito difícil fazer uma cronologia de quantos dias serão necessários. Eu imaginava não termos que lidar com os problemas que estamos lidando. Tanto é que algumas ações nossas tiveram que ser retardadas. É o caso da reforma administrativa. Nossa idéia era de fazermos a reforma já nos primeiros 15 dias. Trabalhamos quase três meses direto nesta reforma. Mas simplesmente quando nós chegamos no dia 2 de janeiro a situação era completamente diferente do que havia sido repassada pela equipe de transição. Esta reforma administrativa terá que caber neste novo contexto que estamos vivendo. Por isso que eu pedi para parar a reforma até que tenha sido entregue o balanço com os números concretos, os números reais de como nós encontramos a administração e que modelo vai servir nela. O modelo da nossa gestão tem que ser no tamanho exato da cidade e dos problemas que vamos encontrar. Na convocação extraordinária nós vamos colocar todos os nossos projetos para os vereadores apreciarem, menos o da reforma administrativa. Esse só depois que o balanço for apresentado. O slogan da administração Carlos Eduardo era ‘‘Compromisso com Natal’’. Na opinião da senhora faltou compromisso da gestão passada com a cidade? Eu não quero, de forma alguma, que minhas palavras sejam encaradas como uma oposição à administração passada. Como a própria palavra já diz, a administração passada está no passado, é uma página virada na história de Natal. Mas uma administração que tinha como slogan ‘‘Compromisso com Natal’’, deveria ter compromisso com a transparência, com a ética e com a legalidade. E aí entram os compromissos financeiros, que não foram honrados pela administração anterior. Não é justo uma gestão que tinha um slogan como este tenha deixado mais de R$ 100 milhões em aberto porque não cumpriu os compromissos de pagar os seus débitos. Não é justo hoje nós estarmos com a demanda de problemas que temos para resolver, a saúde em estado de emergência, vários problemas na área de drenagem, obras inacabadas e que foram entregues inacabadas. Não é justo uma cidade que enfrenta os problemas que enfrenta ainda ter que se deparar com 50% da sua arrecadação própria já hoje comprometida para pagar os débitos da administração passada. Isso é uma equação das mais fáceis. Qualquer empresário, feirante, microempresário ou pai de família sabe: ‘‘se eu posso pagar, eu posso comprar’’. É nesse momento que eu reitero meu compromisso com a verdade. Esta cidade que me elegeu com o slogan ‘‘Natal melhor de verdade’’ vai encontrar em mim sempre a disposição de fazer uma administração transparente, pautada na legalidade e democrática. Mas antes de qualquer coisa, será uma administração balizada pela verdade. A senhora disse que não tinha como prever quanto tempo seria necessário para reverter os problemas encontrados. Mas a partir de quando a senhora espera poder implementar os seus projetos para a cidade? Nós temos alguns prazos que precisam ser cumpridos até de alguns recursos que a prefeitura recebeu do governo federal na gestão passada e que não se cumpriu, com o risco de termos que devolver. Nós temos prazos para serem cumpridos em obras de Nossa Senhora da Apresentação, em Capim Macio e outras obras estruturantes para a cidade. Minha determinação aos secretários de Obras e Planejamento é que estas obras estruturantes para a cidade não parem. Que elas não percam a continuidade e que nós possamos fazer o que não foi feito. Temos que ter todo o cuidado em dar o andamento preciso para que as obras não parem. Obra parada é sinônimo de muitas dificuldades para a população. A obra em Nossa Senhora da Apresentação é uma exemplo disso. Na nossa gestão, o que nós queremos é otimizar os recursos públicos. É tomar as medidas certas na hora certa. Fazer por onde o recurso público seja bem utilizado. Então em relação a estas obras importantes para a cidade, nós vamos fazer por onde entrarmos com nossa contrapartida, o que infelizmente a prefeitura não vinha fazendo e por isso alguns recursos tiveram que ser devolvidos em várias áreas. Por isso nós temos um prazo curto, porque alguns recursos podem ser devolvidos se nós, em tempo hábil, não pudermos agilizar a nossa contrapartida. E veja a dificuldade: Agilizar uma contrapartida numa cidade que está com todos os problemas que está. Então é por isso que eu coloquei essa questão como nossa prioridade: Não parar obras importantes para a cidade. Depois da eleição de 2008, a senhora volta a se considerar uma aliada política da governadora Wilma de Faria? Não gostaria nesse momento de falar de questões políticas. Volto a dizer que estamos passando por um processo muito grave na nossa cidade. Estamos em estado de calamidade pública em nossa cidade, com muitas dívidas que precisam ser pagar e o funcionalismo público que precisa ser pago em dia, que é um outro compromisso nosso. Já essa questão política, de aliados, o fato é que o Partido Verde continua fazendo parte da base aliada da governadora. Nunca deixou de fazer parte, nem mesmo durante a campanha passada. Até porque, eu como presidente do partido identifiquei que seria uma questão pessoal minha, mesmo porque do outro lado da ‘rua’, em Parnamirim, a governadora apoiava um candidato do Partido Verde. Então o PV continua aliado da governadora. Depois de passado o processo eleitoral nós ainda não sentamos para conversar sobre qualquer tipo de aliança política. O que existe hoje, e que eu sinto, é a boa vontade e predisposição da governadora em poder fazer conosco uma parceira administrativa. E eu acredito que é isso o que a nossa cidade precisa neste momento. A questão política pode ser tratada em outro momento. Para não repetir os erros que vocês encontraram da administração passada, o caminho é fazer uma gestão transparente? Como fazer isso? Necessariamente passa pela transparência. Por isso que nós vamos inaugurar o nosso Portal da Transparência. Nós vamos ter o nosso site totalmente aberto, onde a população poderá acompanhar a execução das obras e como os recursos públicos estão sendo gastos. Se isso acontecesse antes, a população teria visto que a administração anterior tinha por costume pagar atrasado os encargos. Então se pagava muitas vezes a folha salarial e atrasava os encargos. Isso gerava multas em relação a estes tributos. E multa, eu digo sempre: é um dinheiro podre, é um dinheiro gasto que poderia ter sido evitado se aquilo tivesse sido pago no momento certo, não com taxas, multas e encargos que são cobrados. Infelizmente muitos recursos foram por água abaixo devido a falta de planejamento no pagamento dos encargos. Comenta-se que a equipe de secretariado que a senhora montou não foi a equipe dos seus sonhos, mas a possível. Essa informação procede? Não, eu tenho um secretariado do qual eu me orgulho e que eu sei que tem muito trabalho pela frente. Todos, sem nenhuma exceção, estão muito empenhados. Agora, vai caber a cada um dos secretários realizar o seu trabalho e eles já estão tendo de mim uma cobrança muito forte. Eu estou sempre presente no contato com os secretários. Eu preciso nesse primeiro momento ter secretários como os que eu tenho, que não botem vendas nos olhos e fiquem dentro do gabinete. Eles foram escolhidos para serem meus auxiliares, mas não podem simplesmente se posicionar dentro de um gabinete e acharem que resolvendo questões burocráticas vão ser bons secretários. Na minha visão, eles têm que estar, necessariamente, onde o povo está: na rua, ouvindo a população, vendo os problemas e, junto com a equipe técnica de cada secretaria, tomando as medidas necessárias. Eu digo que hoje eu estou satisfeita com o secretariado que escolhi. Na segunda-feira a senhora irá se reunir com os vereadores, não só da base, como também da oposição. Como a senhora espera que seja a sua relação com a Câmara Municipal, considerando que a bancada de oposição tem apenas cinco vereadores? Eu espero que essa convivência seja a mais harmoniosa e respeitosa possível. Eu fui deputada por dois anos e foi um período muito rico na minha vida. Eu era da bancada do governo e sempre me relacionei bem com a bancada de oposição, sempre com muito respeito. Eu sei da importância do Poder Legislativo na boa condução de uma administração. Sei da importância de ter uma boa base para podermos ter a garantia da governabilidade, ter vereadores parceiros que vão estar lá defendendo a nossa administração. Como também sei que as críticas que vierem por parte da oposição, não sejam críticas desmedidas, feitas por uma oposição raivosa, o que não acredito que será feito em Natal porque os vereadores, até onde eu saiba, têm responsabilidade com relação as suas ações e até com as pessoas que os elegeram. Da minha parte, o que os vereadores irão encontrar é uma prefeita disposta ao diálogo para que possamos ter as parcerias necessárias para que a cidade ande. A cidade precisa destravar. A cidade está engessada, devido a várias e várias questões. Esse avanço só será possível se os vereadores tiverem essa consciência. O prefeito Carlos Eduardo tinha com líder um vereador do PV e agora a senhora escolheu para líder um vereador do PSB. Como se deu esse processo de escolha da liderança? Essa é mais uma prova de que a questão da liderança não está intimamente ligada à questão partidária. Eu escolhi o vereador Enildo Alves, que mesmo com todas as dificuldades impostas pela legislação eleitoral, foi um combativo vereador que esteve acompanhando todo o nosso processo e defendendo as causa que nós acreditamos serem justas para nossa cidade. Ele é um vereador incansável, que tem todos os predicados que eu imagino para um líder de nossa administração: alguém que não cruze os braços e espere que as coisas aconteçam, mas que faça acontecer. Por isso a indicação de Enildo Alves. Agora, o líder vai ser mais um vereador que vai estar nessa coordenação. Eu tenho certeza que com os outros vices-líderes que serão escolhidos nós vamos ter uma bancada muito boa. A senhora declarou que seu primeiro voto para o senado será para o senador José Agripino. Qual critério vai pesar para o seu segundo voto? Eu continuo batendo na mesma tecla de que não é o momento para falar de política, pois é um momento muito difícil para a cidade. Seria até um desserviço eu estar hoje, diante de tantos problema, com calamidade pública na saúde, discutindo nomes para 2010. O que eu posso dizer é que se tem alguém que é o meu candidato, que eu sempre aponto como meu candidato é José Agripino, porque ele foi desde o primeiro momento um parceiro na nossa campanha e agora na nossa gestão. Afinal de contas alguém que já foi prefeito de Natal e governador do estado precisa sempre ser ouvido. Mas daí dizer quem é o segundo voto é uma questão que eu vou falar no momento certo, que não é o ano de 2009. A senhora conta com três pré-candidatos ao governo na aliança que a ajudou a eleger. Quais serão os critérios para a escolha deste candidato? Certamente não vai ser uma questão individual de Micarla. Será uma escolha de partido. Mas volto a dizer que este não é o momento certo para essa decisão. A hora é de arrumar a casa.
fonte:dn online

Nenhum comentário: