domingo, 7 de dezembro de 2008

Em 23 anos, taxa de divórcios cresce 200%

Embora as igrejas continuem lotadas, o juramento ‘‘até que a morte nos separe’’ está cada vez mais distante da realidade. A cada 3,5 casamentos no Brasil, há um divórcio ou separação judicial. Um recorde de uniões desfeitas marcou 2007: 249.463. Estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgado ontem, intitulado Estatísticas do Registro Civil 2007, mostra que de 1984 para cá a taxa de divórcios no país cresceu 200% ù passou de 0,42 para 1,49 a cada mil habitantes. Apesar dessa escalada, os matrimônios continuam, paradoxalmente, a todo vapor.
De 2003 para cá, a taxa de casamentos por mil habitantes também não parou de subir, passando de 5,8 para 6,7. A administradora Danielle Feitoza, 33 anos, não só aposta na idéia como também investiu pelo menos R$ 25 mil, entre cerimônia, festa, convites e produção fotográfica. Ela se casou ontem com Deveth Ferreira, 29 anos, e foi conduzida até o altar da Igreja de Cristo, na Asa Sul, pelo filho, de 15 anos. ‘‘O mundo só está assim porque perdeu os valores’’, afirmou, referindo-se ao grande número de divórcios. ‘‘Acredito na conservação dos valores para constituir uma família. Tudo dentro dos padrões’’, completa.
Na avaliação da antropóloga da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisadora do Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero (Anis) Débora Diniz, os números relativos aos divórcios não significam que os casamentos têm sido infelizes. ‘‘Essa grande transformação das práticas sociais brasileiras é o reflexo de uma mudança de comportamento, mas também de um amparo legal que o Estado passou a dar a essas pessoas’’, afirma a antropóloga, referindo-se à Lei do Divórcio, que completou 30 anos em 2007.
A maior parte dos divórcios no ano passado — 75,9% — foi consensual. Quase 30% dos casais não tinham filhos. Na opinião do terapeuta familiar Enrique Maia, do Instituto de Psicologia Aplicada, o aumento de uniões dissolvidas tem a ver com uma nova visão de felicidade. ‘‘Nunca se vendeu tanto livro de auto-ajuda. Verificamos, mais do que nunca, uma busca por realização pessoal. E o casamento, no contexto atual, aparece como um dos caminhos, e não o único, para atingir tal objetivo.’’ Outro barco
Uma redução dos prazos mínimos exigidos para iniciar os processos de separação e divórcio, modificação legal feita em 1988, deu um empurrão aos casais descontentes. Tanto é que houve um aumento substancial na taxa de divórcios, de 0,44 para 0,85, exatamente no ano seguinte à alteração na legislação. Para o advogado Eduardo Coelho, especialista na área de família, o alto índice se explica pelo fato de as pessoas estarem regularizando uma relação pós-separação. ôQuando uma das partes pede a dissolução absoluta do vínculo conjugal é porque está com um pé em outro barco e, nesse momento, quer romper todos os laços com o parceiro anterior.
O advogado Gilberto Dantas, que há 15 anos atua nesses casos, atribui o crescimento de divórcios às relações sociais. ‘‘Antes, os casais pediam a separação em razão de brigas e traições, e hoje, com a independência conquistada pela mulher, a diferença de salários e de estudos são os fatores que mais influenciam no pedido do divórcio’’, diz. Para a cabeleireira Carmen Lúcia Ferrreira, 52 anos, pesou a falta de confiança. Decepcionada com uma traição do então marido, ela se separou em 2001 e pediu o divórcio em 2005.
‘‘Sofri muito durante três anos. Ele não pagava a pensão e não queria dividir os bens. Hoje, recebo tudo o que tenho direito’’, afirma a cabeleireira. Ela passou 27 anos casada com o ex-marido e pai de seus três filhos biológicos. Os matrimônios com duração de 20 ou mais anos, de acordo com a pesquisa do IBGE, são os mais dissolvidos. Em seguida vêm os casamentos de 10 a 14 anos e 15 a 19.
fonte:dn.online

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